Como já foi referido anteriormente, uma sucessão estratigráfica é considerado um registo cronológico da história geológica de uma região. A partir da aplicação dos princípios da estratigrafia podemos dizer se uma camada é mais antiga do que outra.
Ao colocar lado a lado sequências estratigráficas, em alguns casos são descobertas zonas em que uma camada está ausente. Isto acontece porque essa camada não chegou a ser depositada ou foi erodida antes de a camada subsequente se ter formado.
Neste caso a superfície ao longo da qual essas duas camadas se encontram é chamada de Discordância - uma superfície entre duas camadas que não foram depositadas numa sequência contínua. Se, pelo contrário a sequência representa um troço do tempo geológico contínuo desde a base até ao topo, não existindo paragens na sedimentação (pode usar-se o termo hiato em sentido lato para descrever estas paragens), dizemos que existe continuidade. Todavia mesmo quando uma sucessão litológica é homogénea, contínua, quase nunca representa uma acumulação ininterrupta de sedimentos. As descontinuidades são quase sempre perceptíveis.
Serra do cadeado, norte do Paraná - Brasil
Estas camadas recontam a história geológica do Permiano Superior até ao Cretácico Inferior.
http://www.unb.br/ig/sigep/propostas/Serra_do_Cadeado_PR_Fig_01.jpg
Existem quatro grandes descontinuidades relativas ao interior da terra que separam as suas unidades mediante critérios físicos, químicos e litológicos. A sua descoberta deve-se maioritariamente à sismologia e ao recurso das ondas sísmicas.
- Descontinuidade de Conrad - Esta descontinuidade corresponde ao plano sub-horizontal que delimita a crosta continental superior da inferior (15-20km de profundidade), separando as rochas félsicas da crosta superior (ex: granito) das rochas máficas da crosta inferior ( ex: basalto). Aqui existe um aumento descontínuo da velocidade das ondas sísmicas)
- Descontinuidade de Moho - Representa a fronteira entre a crosta e o manto superior, situando-se entre 5 km a 10 km no fundo dos oceanos a cerca de 35-40 km abaixo dos continentes, podendo atingir 60 km sob as cordilheiras mais elevadas. Aqui as ondas sísmicas sofrem um aumento brusco da velocidade devido à maior rigidez do manto.
- Descontinuidade de Gutenberg - É o limite entre o manto inferior e o núcleo externo (cerca de 2883km de profundidade). Aqui as ondas S que deixam de se propagar. e as ondas P diminuem bruscamente a velocidade. Daqui pôde inferir-se que o núcleo externo é líquido pois as ondas S não se propagam nesse meio.
- Descontinuidade de Lehmann - Separa o núcleo externo (líquido) do interno (sólido), aumentando novamente as ondas S e P.
As descontinuidades também ocorrem nas unidades exteriores da terra, dividindo-se em descontinuidades sedimentares, descontinuidades estratigráficas e descontinuidades diastróficas.
- Descontinuidade sedimentar - Ocorre num intervalo de tempo muito curto entre duas lâminas sucessivas. Podem corresponder a simples ausência de deposição (discontinuidade passiva) ou a destruição parcial ou total da lâmina anterior (descontinuidade erosiva).
- Descontinuidade estratigráfica - Ocorre quando existe um intervalo de tempo considerável entre duas unidades sucessivas. pode estender-se por dezenas de km.
Descontinuidade estratigráfica
Original em: http://formacao.es-loule.edu.pt/biogeo/geo12/pre_requisitos/imagens/discordancia.jpg
Alguns exemplos de descontinuidades estratigráficas:- Disconformidade: Corresponde a uma discordância em que o conjunto superior de camadas assenta sobre uma superfície erosiva desenvolvida sobre um pacote de camadas não deformado e ainda disposto na posição horizontal.
- Paraconformidade: Não há diferença de atitude entre unidades sobrepostas ainda que, às vezes, faltem diversos conjuntos líticos; é comum faltarem depósitos correspondentes a vários milhões de anos.
- Não conformidade: É uma discordância em que o pacote superior de camadas se recobre rochas ígneas intrusivas ou metamórficas.
- Discontinuidade diastrófica - Quando à ausência de determinada unidade geológica se junta deformação tectónica.
Alguns exemplos:- Discordância progressiva: Quando as diversas camadas vão fazendo ângulos progressivamente diferentes com o substrato inferior.
- Discordância angular: Corresponde a uma discordância em que o conjunto superior de camadas se sobrepõe a um inferior cujas camadas foram dobradas ou basculadas por processos tectónicos, sofrendo erosão numa superfície maios ou menos plana. Os planos de estratificação superior e inferior não são paralelos.
Aspecto de uma discordância angular
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Original em: http://seisseixos.blogspot.com/2007/05/discordncia-angular_26.htmlOutro exemplo de uma discordância angular.
Original em: http://www.educa.madrid.org/web/ies.ginerdelosrios.alcobendas/departamentos/cienciasnaturales/2bach/geolo/bachillerato/patatasbach/pagweb/contactos.htmO tempo que corresponde à ausência de sedimentação, levando à formação de descontinuidades pode ter valores muito distintos, podendo a descontinuidade representar um espaço de tempo geológico curto, médio ou longo.
- Hiato : quando a duração é muito curta (às vezes é utilizado em sentido lato, sempre que se detecta ausência de deposição).
- Diastema : corresponde a uma interrupção curta, sem modificação nas condições de sedimentação.
- Lacuna : quando a duração é apreciável e pode ser avaliada biostratigraficamente como a lacuna de uma biozona por exemplo.
Referências bibliográficas:
Press, F ; Siever, R ; Grotzinger, J ; Jordan, T (2006) - Para entender a terra (4ª ed) - Porto Alegre: Bookman 2006
Moodle:
_Descontinuides sedimentares e contactos entre unidades litológicas:
http://moodle.fct.unl.pt/mod/resource/view.php?id=93673Wikipedia:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Descontinuidade
http://pt.wikipedia.org/wiki/Descontinuidade_de_Conrad
http://pt.wikipedia.org/wiki/Descontinuidade_de_Mohorovi%C4%8Di%C4%87
http://pt.wikipedia.org/wiki/Descontinuidade_de_Gutenberg
http://pt.wikipedia.org/wiki/Descontinuidade_de_Lehmann